sexta-feira, janeiro 22, 2010

Ele ou ela

Era abril.
Ela voltava
com suas sacolas
com suas vontades.

A casa revolvia
os três meses de sua ausência.
As plantas verbos
ignorantes dos seus afetos
proliferando com uma maldade daninha.
Tudo posto em seu lugar,
tudo em dúvida.

Ele parecia ter se organizado,
os copos,
até mesmo os jornais velhos.

A luz de fim de tarde escrevia desenhos estranhos pelo chão,
efêmeros como sua partida,
sua chegada,
sua vida.

O lugar não lhe devia nada,
poderia abrigar mil e uma mulheres no seu lugar,
tão inteiras,
tão perdidas,
todas mulheres nuas pela metade.

Talvez ele chegasse,
ou não.
Ele encontraria a mesma mulher vazia,
serena da boa vontade de o saber.
Ela que partira para nunca mais se esconder.

Ele que intuia,
que todo dia tateava,
a vida.

Por sua perna direita,
lisa e branca,
descia um fio carmim de sangue.

Ele chegava, olhava seus olhos,
limpava sua perna.
Ele sempre soube tatear suas feridas.
Ele sempre dizia
está tudo bem.

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