terça-feira, janeiro 12, 2010

neo antigo

Eu andava com os pés firmes no terreno da sanidade,
calculando cada passo com desenvoltura,
em contraponto a sua ida macia e instável e descontrolada das noites azuis ou amarelas de mar.

Andando nesse asfalto quente de cidade senti meus pés sugados pela força do ventre,
engolida pelo solo, lugar dos demônios, e dos mortos.
Imaginava melhor assim a sua partida,
num bote vermelho e branco,
rindo, desassosegada, de outros tantos botes,
de outras tantas cores,
com pequenas luzes como guia,
no mar da loucura e da saudade.

Mas eu estava no deserto,
e tangia as missões que me deram,
matar 101 homens vestidos de cinza,
e encontrar a mocinha,
embora o cabelo dele fosse bem curto.

Não estava,
uma terapeuta apertava minha mão,
salutar ato,
ainda me dizia que no mundo só existia:
amor generoso.
E que calada e cheia de amargor eu não seria capaz dele.
Ela e a assistente se riam de mim,
você passava,
ria também,
envolta em tantos desenlaços que perdi a conta.
Homens, mulheres, de todas as cores e tamanhos.
Companhia barato para dançar ou beber,
ou ainda outras coisas que eu não ousava imaginar.

Você passava como a fumaça escapa da boca,
no instante fugaz de um desenho lindo,
que não ampara nem concede,
mas tem a beleza na perda.

Eu tentava te segurar entre os dedos,
olhos ensandecidos, boca dura,
a terapeuta me olhava com olhos doces
como se eu construísse castelos de areia.

Esse mundo de todas as cores perdia o sabor na minha língua,
preto e branco eu acordava.
Dores reais de um corpo dito real.
As mil voltas dentro da cabeça de um infeliz.

Nós nos ligávamos dentro da mesma lógica das cores,
retomava um pouco o sonho perdido.
O celular desligava, era acordar.
Só e com dor na mandíbula,
na realidade rasante do mundo sem mar.

Um comentário:

Luciana Ponce disse...

é que eu até fiquei sem saber o que dizer...