segunda-feira, julho 23, 2012

agora

se lembra daquela chuva? tinha até granizo, embora não fosse inverno. e parecia que ia quebrar os todos vidros. o vento batia nas molduras frágeis das janelas, a água escorrria para dentro de casa, invadindo silenciosamente, apodrecendo tudo de forma invulgar e vagarosa. se lembra dos trovões? iluminavam o seu rosto insuspeito na escuridão, lampejos de desconsolo. as suas mãos frias. tateando, tentando compreender a violência da chuva que invadia todos os passos. o eco do mar no fundo. brigando. a terra acabando, chacoalhando, reagindo. a terra tinha raiva de você, se lembra? te deixou no escuro, úmida, fria. você nem chorava mais. mesmo quando tudo acabou, sobrou só a umidade infinita do charco. você olhou e achou que aquela merda nunca ia secar.

agora é inverno. não tem o calor modorrento das tardes que tanto fizeram que secaram a água. agora é inverno e o sol toca sem queimar. acarinha leve sua pele. agora é inverno e tudo bem não lembrar da chuva e do sol. agora é inverno e você pode sentar aqui do meu lado e ficar nesse sol morno. fica. descobre o toque delicado desse calor inverso. a luz bonita descendo pela poeira. ouve o mar. ele tá rugindo. agora, e para você. não existe nada além de agora. e agora estamos nesse sol manso. e agora o mar bate. e agora nos olhamos. e agora não precisamos entender. e agora basta estar aqui, e agora.

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