domingo, julho 08, 2012

eu quero te falar de antes. Antes as paredes tinham os papéis de parede em ordem e ela nao tinha do que reclamar. Eu nunca gostei dos padroes que estampavam aquela casa. Eu lembro da flor de liz bege. Eu lembro dos losangos laranjas se repetindo, se repetindo, se repetindo, extrapolando as paredes. Por dentro tudo estava mais ou menos roto. Colocando a orelha delicadamente podia-se ouvir as gotas passando incessantes, apodrecendo tudo que alcançava no caminho. Nao sei quem decidiu que a água deveria ser tomada como algo benigno. Ela talvez. Ela gostava muito de tomar banhos. No mínimo 3. Ainda nao descobri o que tanto ela queria limpar. Sei que sua pele ficava seca, e quando ela me procurava com as pontas dos dedos ásperos eu me dobrava com angústia.
e Agora. eu vejo o chao, mártir unico da nossa relacao. eu nao consigo enxergar mais nenhuma marca. o fogo comeu tudo. levou embora toda aquela água insalubre. Agora eu estou de pé aqui. E duvido. Duvido com os pés juntos de que qualquer daquelas coisas aconteceram nesse espaço imaginário em cima desse chao. Eu duvido. Nada no mundo secunda essa hipótese. E a memória, afinal, difere muito pouco da imagincao.

Nenhum comentário: