sábado, abril 27, 2013

lua cheia

noite bem alta, era a lua, pingando palavras no meu ouvido. o dentro aquecia o fora pele ébria passarinho. a rua infinita e nossa. as casas feitas de caquinho de pedra colorida. eu nunca tinha reparado, você disse. eu também não. pensei num silêncio que não era meu. algo gritava ao redor, uma nota só. bemol. e nós atravessando aquele momento como se. a lua só. e você me perguntou. escancarou a pergunta mais branca que a lua. eu quis te dizer que durmo com duas meias e acordo com uma só. eu quis te dizer que meus pés estalam no piso duro de madeira todas as manhãs. eu quis te dizer que gosto de dormir de manhã, o que me deixa com os olhos nublados. você olhava para mim, mas olhava para a rua. era estranho. os carros continuavam passando. não perceberam quando a gente começou a passar. o silêncio escancarava verdades. eu quis te dizer que gosto de cozinhar e comer junto. eu quis te fazer sentir o meu corpo mudando rápido o espaço de um ano, maré alertada por lua. eu quis que você olhasse nos meus olhos. e entendesse. o gosto complexo da tristeza e da inteireza. eu quis te dar minha palheta de cores conquistada no mais dentro da intimidade. pérola, ocre, selva. quando eu vi chegamos. e você não perguntou nada.  enquanto você agarrou minha mão sem intuir o peixe esquivo que nela morava eu percebi que no dentro do silêncio você entendeu algo. que eu nunca poderia ter te explicado.

2 comentários:

Julia Mendes disse...

linda

Ana Roman disse...

raaaw ....