sexta-feira, abril 13, 2007

com um laço vermelho

-a vida é bonita. - disse só porque se espreguiça-va tranquilo, fazia um solzinho nas ventas e ele não usava óculos.
ele ouviu. e depois ele lembrou. porque afinal já fazia muito tempo que a vida era bonita. agora ele se debruçava em cima de uma madrugada doente (os fluxos doentes da cidade, os canos, os ratos - o porco. que matéria mesmo essa que o lembrara do "idiota"?). tarde demais pra lembrar. debruçava-se sem sono em cima da cidade e de um lado pro outro na sua cabeça ouvia "a vida é bonita". tanto tempo. era o tempo ainda que as coisas partiam de direção, o céu era azul e por isso a vida era bonita. depois tudo mudou, foi bem quando ele quis entender o que entendesse, sem que o dissesem. quis achar sartre um merda, e achar que podia ser dele também as verdades. foi um certo dia aí que ele descobriu que pra fazer uma verdade bastava uma mentira. e agora ele olha o céu e não vê nada. são olhos mudos. e ele come salada, e se sente uma vaca. ele digere tudo em pedaçinhos e não come nada. ele se debruça na cidade, e se sente olhando a grama verdinha e sem graça do pasto. ele come, vomita, e come de novo, a mesma massa verde (verde como o fundinho ralo que ele guarda na parte debaixo do estômago). caga sempre a mesma merda. e quase não tem mais paciência. dizem que a mentira é a verdadeira transcendência humana. a mentira é tudo e a verdade é nada, e nada é tudo. e todo mundo só quer trepar. mentira. tudo mentira. ninguém quer porra nenhuma. se tiver alguém que diz que quer chama aqui pra ver. lorota. medo. só medo. é só isso que te faz achar a vida bonita. e agora bem bonitinho senta e fica com essa mentira que eu fiz de presente pra você.

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