segunda-feira, abril 23, 2007

consolo

os corpos distavam um do outro em pouco menos que cinco centímetros. as mentes, entretanto, planavam em pairagens nunca vistas por olhos nus, tão distantes quanto podem dois universos dispostos. ele pensava nela, mas num Ela sem corpo, sem medos, sem o terror da materialidade. ela, por outro lado, consolava-se em uma banalidade de poucos limites: a janela, o chá, a tarde, talvez até o futuro. ele se perdia em labirintos obsessivos, desaprendia formulas e repetia orgulhoso as temáticas do inferno, da perdição, dos sexos, das saudades. inflava o cenho de uma poética inventada (não por ele, mas por outros, antigos, nobres, e poetas). criava-se vivo perante essas contradições eternas dos homens e seus pares, voava a milhas de distância daquela sala escusa, filiava-se pródigo de grandes nomes. vasto e repleto. os olhos cegos e um projeto infantil de riso.
a água do chá da menina fervera. ela, sem medo e etereamente terrena foi à cozinha. da altura infinda dos seus pensamentos, o menino despencou com ossos fracos (perdido no seu próprio vazio. nos seus pelos feios. seu olhar de monstro. seu nome de joão paulo). caiu dos seus infernos e paraísos criados no erro que concebia, segundo após segundo, querendo quem não o queria.

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