quinta-feira, junho 28, 2007

pathos

agora começo a entender. indecisa como uma caminhada, sujeita às veredas. cúmplice, e apenas isso, de um momento que se conjuga no cerne mais denso do presente. se foco os meus olhos para os passos passados, deixo de adivinhar a marca pesada dos meus pés na areia: o vento os apaga, o calor do sol os confunde. então não posso mais com isso, mantenho meus olhos sempre a altura do horizonte-futuro, sempre o porvir. não existo, se inerte morreria. assim continuo no meu exercício maldito, dos passos inesgotáveis, da meditação inesgotável. o sol extrai sem esforço o suor, a areia nele se difunde, renova-se pedra em meu rosto. meus sentidos tornam-se dispersos, entenda o ritmo a que me submeti como uma sucessão de tambores, mantras, preces. torno-me, no deserto, projeto vago de sinestesias. estado de dissolução - moldura. começo, meio e fim - nível d'água. vida seca, rarefeita. olhos embotados de sépia. assim me proclamo, como uma ordem fugaz no deserto.
as nuvens confundem a natureza da água salgada que toca o solo. não deixam de passar, em absoluto. tenho como exemplo as formas de suas curvas. idéias e mundos que passam por vezes despercebidos. a espécie de segurança da gratuidade que tem o afeto de um felino.
sou seca, rala, pouca. fecunda. não me diferencio do solo, da vegetação rara, ou então das nuvens. o ritmo da terra, batimento cardíaco lento, toma conta do meu ser. caminhada letárgica.
tais imagens sem nicho, flutuando por todos os ares, invadem-me o estar que torno como uma obsessão: repentinamente as linhas de um círculo que dele toma posse. círculos, retornos imersos nos caminhos. no meio do deserto sem fim encontro um cactus. forte, linha bruta do constraste. resistência agreste da vida que se cumpre. signo inteiro da fecundidade.
fluxos do tempo, e do meio, no outro áspero, desfaço-me da pedra, despojo-me da areia que formou-me, entrego-me. mato e morro. fim concluso da procissão, sem linhas retas. libero-me da minha carne, arrebento-me no meu ser. sou outra vez.

Um comentário:

Anônimo disse...

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