quarta-feira, dezembro 03, 2008

aborto

era sábado.
o sétimo, e último dia.
levantando-se assim com pressa, com frio,
com as pernas moídas,
as juntas formigando,
os olhos cansados do sol.

era sábado,
embora fosse domingo e o apartamento cheirasse a mofo,
as coisas espalhadas pela sala,
jogadas no chão.
o sol que caminhava pela sala,
cada vez mais azul o domingo.

chorando dessa forma com as marcas de dedo presas a garganta,
sem forças nem coragem para chorar.
calado assim,
olhando os carros passando sombras pela sala.

era sábado a noite,
talvez fosse,
embora fosse um dia ensolarado.
e ele enrolasse as mãos nos pápeis higiênicos.
quando via o espelho sorria,
quando chegava carta tinha medo.

era sábado,
embora fosse um deserto.
e a sala vazia,
e o sol ausente.
e o seu corpo quase morto.

era tarde.

Um comentário:

Anônimo disse...

c.f.a.

claramente