terça-feira, maio 03, 2011

madrugada

eu lembro de uma madrugada que eu passei na varanda do décimo segundo andar, ouvindo música, com um espelho na mão. na época quase tudo era composto da mesma solidão roxa das madrugadas. eu era criança e ninguém queria conversar comigo nada além do banal, do imediato. eu acho que as tardes eram assim também. como olhar o mundo mudando rápido em silêncio, do alto de um farol, esperando o sol aparecer. naquela madrugada eu precisei de um espelho pra me enxergar. hoje talvez eu precise de uma lanterna. naquela época eu sentia que ninguém sabia quem eu era. então eu inventei no espelho o outro que me olha e reconhece. hoje eu sinto que eu não sei quem eu sou. um espelho serviria apenas para adensar esse susto. talvez se eu tivesse tempo. se eu tivesse uma madrugada inteira para acordar. se eu tivesse tempo para abrir os olhos no cheio da solidão. talvez eu lembrasse o meu antigo nome.

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