eu sei
que é possível ter coração
numa cabeça em ordem.
é rio de água transparente,
correndo entre as pedras
cada uma em seu lugar.
a água não para de correr,
e no entanto, tudo se move,
enquanto alguns pedaços de erva se escondem.
na água transparente
também há dores, amores, quimeras.
há esperas e curvas feitas mansas.
já a minha água tem pressa,
às vezes é tempestade balançando as janelas,
as vezes refresca chuviscos de primavera.
às vezes é lago profundo e negro,
onde caem troncos, musgos e pedras,
e cada coisa lenta se decompõe na escuridão sincera.
às vezes minha água é preguiça
fazendo curvas e volteios indecentes
em sua falta de praticidade.
mas minha água vai,
minha água corre,
segue, sempre, o caminho tortuoso da vontade.
é belo, e sempre dá saudade,
quando a sua água prática
encontra e minha água amansa
e finalmente juntas,
pro mesmo mar elas correm.
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