quinta-feira, maio 12, 2011

plie

se eu fosse dizer que não, eu estaria mentindo. e mentir faz mais mal do que fumar. eu vejo o mundo entrededos, e às vezes, vejo ela dançando. não sei se ela sabe que a vejo, que roubo esses instantes de beleza clandestina, chuva no deserto. ou se ela sabe e dança ainda mais bonito. toda segunda feira ela está lá, e eu também. a minha função é outra, nós sabemos. escrever, fotografar, registrar. e ela ensaia ao lado, como se o mundo tivesse parado para ela dançar, ou o contrário. as meninas que tenho que fotografar fazem poses, querem se sentir bonitas, Mulheres. querem ser conscientes de cada passo dado, e ficam um pouco ridículas. ela não. não quer ser consciente de nada, acho. ela fica rodeada como se estivesse nua. às vezes os nossos olhos se encontram. e eu quero muito que ela saiba que assim digo: coisas azuis, aspereza da areia, longidão do céu, luanda, alcaçuz e breu. mas também: vermelho, maciez da pele, umidez do tejo, terra ardida, lama, lama perdida. ela me olha de volta e fico na dúvida. se ela soube tudo compreender, ou se diz outras coisas, outros silêncios. se ela escancara nos olhos o ser Outro, ou se ela também, me convida.

Nenhum comentário: