segunda-feira, novembro 13, 2006

domingo

créditos rolando no fundo escuro, música brega, mais uma ilusão americana.
massa cinzenta.
lentamente tomando consciência de si mesmo. costas doendo, uma vida inteira nas mãos:

-não é possível voltar a viver assim, repentinamente assim. - pensou num ímpeto inexato, com a cabeça baixa para que não vissem as lágrimas que, de qualquer forma, não estavam ali.

saiu
escoltado pela multidão.

perdia-se de si, e voltava a regurgitar pensamentos:
sussurrou amargurado, repetidamente, rendeu-se, lacônico. mesmo achando que eles nunca compreenderiam o sentido daquilo tudo. não, definitivamente não entenderiam. era um silêncio que nem ele mesmo ousava saber de todo.
apressou os pés, e voltou-se para o seu disfarçe. um homem tocava tranversal, o outro desenhava retratos, a chuva rala caía, e era noite. tudo se encaixava nos gabaritos da sua solidão. pensava, desleixadamente, queria um gravador para poder captar e destruir toda a graça dos fluxos de consciência.

espreguiçou-se lânguido na poltrona vermelha. um jazz distante, talvez do vizinho de baixo, os cigarros que ele já não fumava a anos. podia finalmente ser o jornalista desiludido, vendo os carros passarem com desespero através da persiana decadente comprada na 25 de março.

quedaria-se, em instantes, na cama, vencido pelo cansaço, perdendo mais uma madrugada em que ele poderia ser ele, um ele-eu, um gato, e mais outro gato que era a noite-tão-tarde: dois vagabundos insones.
sonharia um sonho branco, leitoso,
no final das contas acordaria e, quem sabe, seria mais uma vez o ainda ingênuo e pequeno, e pastoso, e piedoso, eu, que apesar de tudo
(todo o peso do tudo)
ainda achava divertidas as formas retorcidas das nuvens.

3 comentários:

Anônimo disse...

acho ainda mais divertido essas suas formas retorcidas de ser o mais belo.

Anônimo disse...

anaaaa, nossa meu lindo...

Anônimo disse...

isso me lembra algo....