segunda-feira, maio 14, 2007

faísca / retalho

cansou-me esse lastimar que eu era. anos de alguma incongruência com os fatos do mundo, dia após dia, me tornando aquela coisa aberta de quase morte. tornando um resto qualquer, uma poça de emoções amargas. eu talvez fosse um lago ou uma casa, era uma carta que ninguém nunca leu, permitia no mais fundo do meu silencio ser pouco menos que um buraco. eu era um nada, achando que assim eu me tinha inteira. me guardava no escuro, aguardava outros tempos, e nada. todo ato se desvanescia no ar, pimenta aguada nos olhos, medo-espécie-de-amargura.
dúvida de que essa existência ébria e escura, por só, fosse como minha. era nada! era pouca. aprendi quando me esqueci, porque me encontrei no ato. no que de mim retornava quando eu fingia não ser. me encontrei em todos os enganos, pois me entreguei. foi assim que novamente o erro encheu minha boca de palavras: quando a melancolia com sua ladainha atraente conquistou-me numa esquina. encheu-me matéria vazia no peito.
bebi, e não voei. só pude andar. princípio do fim a falta. enleio da matéria. é isso que somos.
o oco inadimplente retorna. e então somos nós.

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