ouvir como conchas do mar,
andar com soluços secos,
se ver e não se olhar.
a sala está vazia.
a cidade convulsiona pela janela aberta.
o corpo que lê o jornal,
não fede nem cheira,
vira as páginas mecanicamente,
e tem o mundo nas mãos,
(embora não tenha conhecido, ainda, os vizinhos).
enquanto isso
seu coração descontrolado,
dúbio, ébrio,
canta vidas outras,
dentro de suas esquinas,
um sim, ou não - talvez.
num dos quartos de sua alma um leão,
com as jubas vastas, os olhos calmos,
com a sapiedade de vidas passadas.
o leão espera afoitamente que o mágico,
que mora no quarto ao lado,
traga-lhe a carne moída do almoço.
(na falta de fêmeas, mágicos).
num andar acima mora a cantora de jazz,
e sua coleção de vestidos.
toda noite ela canta para uma platéia vazia
(todos preferem o show de horrores do quarto andar),
embora escute em seu peito a explosão da salva de palmas.
há muitos quartos,
há muitas pessoas.
gordos, carecas, sereias,
e até um anão,
apaixonado pelo frigobar.
mas entre tantos quartos e gêneros,
há uma porta que a menina dos olhos puxados não ousa abrir.
o quarto tem seu próprio pulso,
suas próprias idéias,
suas próprias paixões.
nele o vinho vira água,
os filhos mais velhos,
das moscas e das rãs,
morrem com feridas na pele.
há frio e escuridão,
e a vontade determinada de que um dia
(talvez tarde, talvez nunca)
as portas se abram,
e numa linha contínua e infinita,
saiam todos
resíduos emprestados de uma vida,
cigarras e gafanhotos.
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Um comentário:
que ruim isso
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