quarta-feira, outubro 01, 2008

brisa

você me pega assim bem de mansinho.
quando vem com esse vestidinho preto recortando as pernas como tesouras sei bem o quao úmida é essa mulher que vive em você. acho bonito e temo. te dou um beijo recatado exatamente por isso. você põe as mãos na minha nuca, sussurra segredos como silêncios no meu ouvido, e eu me sinto uma criança. e me sinto triste. e me torno um pouco menos sua.
então, tão cedo da noite, sinto uma onda passar pelo meu corpo todo. começa pelos dedos da mão, passa pelos pelos do braço, mas logo me toca, tão cedo me toma - por inteiro. e tenho vontade de espernear e de gemer e de gritar e de apanhar.
sou tão fácil. e me irrita. nem sempre me acompanha dessa facilidade física um outro se dar, metódico, esse difícil.
ainda bem que mesmo assim você vai me ganhando. bem devagar. quando me encontra nessa dureza da infelicidade, quando eu me escondo como um bicho na parte mais escura desse mim. ouvindo o barulho invisível de poças dágua. gotejar silencioso da solidão.
nesse estado sinto sua boca tão macia cheia de umidade (e duas bocas assim úmidas me lembram tanto vaginas), e sinto sua ternurna, e sinto seu sorriso e seu olhar me olhando. e não tenho vergonha de mais nada, dos ângulos mais sórdidos, dos cheiros mais recônditos. nesse instante eu confio em você. e me entrego como quem não sabe da morte implícita no vento. eu abro meus braços bem pra essa escuridão me invadir.
e assim, num bem assim, te desconheço. embora o possa, sentindo suas mãos me levando para a escuridão.

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