quarta-feira, outubro 01, 2008

como fosse madrugada

gosto tanto de uma dessas músicas de bossa nova (acho que era vinicius) que o rapazinho lá diz que então amanheceu chutando pedras pelo chão.
quando tenho vontade de escrever acho que é quase isso o que quer sair de dentro de mim. é muita solidão e muito silêncio. e tanto que chega a ser patético o paradoxo de isso ser escrever. expressão é interferência. né coisa de um só não.
bom, mas é como isso. nesse fôlego antes de escrever, quando o batimento vai aumentando até o um segundo antes do gozo dá vontade de vomitar uma coisa que é como amanhacer chutando pedras. o dia tá nascendo. e isso quer dizer que tem o lirismo implícito. mas também te mostra o quanto pouco você é de você mesmo. você era seu ontem, sabe? na madrugada. achando que a escolha de beber e perder tempo esperando o improvável era sua. e daí o solzão chega e você é aquele ser meio sujo, meio empoerado. meio coisa de ontem. você precisa ir pra casa porque independente do que você fizer já é dia. e não tem mais manhã pra perdoar os seus erros de juízo.
mas você não olha pro sol. você olha pro seu pé como um fetiche. você gosta do fato de que é uma manhã e que tá todo mundo de saco cheio pegando ônibus lotado pra ouvir conversa de boi. e que talvez eles olhem pra você e não gostem. mas você sabe que eles não te enxergam, que eles não estão vendo nada, que eles passam como os dias, e que você não faz parte de nada daquilo. você vai dormir. mas antes disso pode ter raiva. enquanto ainda não fizer parte desse tempo biológico você pode cultivar sua úlcera. você chuta as pedras de manhã e não pensa se adianta alguma coisa. não relativiza sua ira para depois se desconcertar com todas as picuinhas "sociais".
não.
eles são eles.
e você é do tipo de pessoa que amanhece chutando pedras pelo chão.

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