sexta-feira, setembro 03, 2010

cozinha

o corpo dela suava em cima da cama. o corpo dela
mesmo inadimplente
incorrigivelmente
necessariamente
vivo.
pulsando e suando em cima da cama.

ou estávamos paralisadas diante daquele momento cirúrgico,
ou ela tinha se endurecido por alguma coisa que eu dissera.
eu não me lembrava de nada que poderia ter dito.
eu não lembrava de nada que tivesse dito.
eu não lembrava de nada.
tinha esse momento na mão
gelo derretendo lentamente em contato com a pele.
e mais nada.

ela olhava pro teto
e pensava.
pensava por querer evitar estar
ou por tédio.
se agarrou com as duas mãos na coberta.
esperava.
eu sai do quarto para beber um destilado na sala
e para ouvir música olhando a cidade.
como uma mulher
suada
nua
sozinha
no quarto.
esperando.

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