quinta-feira, maio 25, 2006

patologia

não sei dizer não
tudo aquilo que não digo, que digo que digo, e que não falo, esqueço, pelo avesso, das palavras, de antemão. não sei dizer não. não antecipo o grito maldito, não faço do fruto, discórdia, sei meu nome, e de cor, o arrepio. sigo. não sei dizer não. se prepare, se for pra pedires favores, se for pra ir junto, até o fim do resto do mundo.

palavras, poéticas, ensimesmadas, cantadas, colhidas, por um negro velho e sua bateria. antecipe então o meu ritmo, cada sílaba é uma flor, cada flor é um amor, cada fim é uma solidão só. aquela menina, canta pra se esquecer, suas palavras são o cobertor, ela só não quer mais sofrer. é melhor fingir que música, e seguir. eu sou o casco, e você o surdo, se partir do ponto de que ninguém vai entender, todo caolho é lucro. o outro lá, mimeticamente, embaixo da ponte, as palavras, pra ele, são comida. com as mãos ele as ajuda, as molda, e as poetiza. com a mão ele as ama. a poesia alimenta.

ainda tem tudo que travestido,
atrás das construções que são também sorrisos.
eu só sei dizer então, eu só sei dizer as coisas,
que por sua vez também me dizem,

coloco-as no colo.
sei dizer que são todas minhas,
sei faze-las minhas filhas, sei então, como mãe,
corrigir-lhes a poesia,
que erra como água,
e se estrepa fluxo constante.

como dói, patologia,
eu ainda,
não sei dizer não.

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