sábado, fevereiro 07, 2009

podia ser sábado

alisava com os dedos as dobras incômodas que se formavam quando o tecido enrrugava. um tecido grosso, espesso, rude. passava os dedos e o contato não era muito agradável.

em instantes assim, afundado no mofo do tédio, podia ouvir o latejar discreto da cidade. por trás de cada latido ou cada grunido motorizado. um breve e continuo pulsar, silêncio preenchido da cidade:

as pedras conversavam entre si
incólumes às nossas bobagens.
as plantas crescendo faziam estardalhaço, jurava.
a mãe talvez fosse alcoolatra, não nascesse tão quadrada,
e o pai tinha dor nas costas por causa do peso, além de roncar.
queria um dia conhecer os irmãos romenos que tivera nos seus sonhos infantis,
e falar para a tia o quanto era feia.

talvez só quisesse virar o lado do vinil e começar tudo de novo,
mas agora, deitado no tapete grosso e branco, tinha apenas preguiça.

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