quinta-feira, fevereiro 19, 2009

rubens

passava os dedos sob a máquina de xerox e via saindo pela prancheta mundos inventados num toque.
para ele era tão importante decidir se queria lasanha congelada verde ou branca, quanto era para mulher do caixa fugir da angústia de não ter trocado.
para ele, de colarinho rente ao pescoço e cabelo alinhado, nada importava mais do que as fomes médias, o desejo de aceitação, as tribos primatas.
entrou no elevador e apertou o seu andar sem pensar em ser.
uma mulher que talvez chamasse roberta entrou no próximo andar.
ele se contorcia sem se mexer
e percebeu que queria trepar.
uma dessas tantas fomes baixas, a atrapalhar sua mediocridade.
saiu em seu andar e não era mais.
comeu debruçado sobre a cidade.
sobre a solidão de uma cidade iluminada.

a comida não descia direito e ele tinha vontade de querer chorar.
não chorava a anos.
não chorava a tempos.
não se lembrava de existir.
ele acabou seu prato e se resfolou na certeza de uma atividade.
terminou de lavar a louça,
preparou-se para dormir demoradamente,
habitualmente.
deitou no quarto escuro e não tinha culpa.

batia três horas da manhã e a leve subversão de ainda estar acordado o mantinha acordado.
eram três da manhã.

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