sábado, dezembro 22, 2007

formol

a sala está escura,
o prédio está vazio.
nenhum som,
a não ser as folhas secas a tilintar o vento.
nenhuma vontade,
a não ser a de evitar o medo.

companhia dos passos ocos
no chão de cimento.
invado o estar sincero
das coisas desta sala.
vivas longe destes olhos,
imóveis diante da porta aberta.

são orgãos e vísceras,
de matéria carcomida,
embaladas noite adentro
pelo formol e sua sombra.
esperam a morte,
suspensas,
em um tempo úmido,
e sem valor.

tocam-me o bumbo
insurdecedor,
do rufar dentro do peito.
pois já não há espera que crie acalanto,
e nem poro que resista a outro beijo.

sem vida alguma,
jaz o coração suspenso.
e não é formol, nem espera,
o líquido que o congela.
é apenas o que resta,
de anos e anos de quimera.
escorrendo pelas beiradas,
a aguardente solidão.

Nenhum comentário: