domingo, dezembro 25, 2005

há tempos

Me cansei de fingir me calar diante dessa conspiração sem razão.
Calar-se diante das coisas mais banais, e necessárias. Absurdo.

Assim, meus músculos cansados, começam a acostumar-se a não reclamar a dor, de ser músculo partido.
Calar as coisas de real valor, esses milagres de que você fala, e eu teimava em não acreditar.
Cala-los, pois permitir a sua existência, nesse mundo tão cinzento, é pecado dos mais graves.
Sim, palavras não deixarão os milagres desfazerem-se ao longo do dia.

e fora do onibûs é noite, e luzes laranjas iluminam o mato que passa rápido demais para que algo dele viva em mim. no máximo morre a fugaz impressão que me deixou. mesmo que algo fique pra sempre, impresso na minha retina, e faça parte de mim.

E o sol que fez essa tarde é um milagre, e o sorriso silencioso e contente do cobrador é um milagre, e as minhas saudades são um milagre.

Me divido ainda entre a sensação de estar dentro de um filme, e não participar dessa vida, ter esquecido a minha alma no metrô, e a sensação de ainda sentir as coisas, com uma intensidade tremenda. Acho mesmo é que estou morrendo, cada segundo um pouco mais. E quem sabe não é isso mesmo!

Meus beijos já não são como eram na semana passada, e de uns tempos pra cá, ando perdendo muito de mim. À noite, bem baixinho, sussurram na minha orelha, que a vida é curta, e a infância acabou-se. E assim aos poucos, vou esquecendo de ser consciente, e parto pra vida com um corpo oco e surdo.
E é um crime, que à noite a culpa cristã vem castigar.
(mas se os dias hoje em dia só tem 22 horas!).

Sim, já não sou mais a mesma, e já nem sei mais quem sou.
Me perdi em alguma esquina, e nunca mais me encontrei.
Sem eu mesma não sei mais diferenciar as cores,
e não sei mais reconhecer pessoas, de pedras, ou de plantas.

Quem ser eu?
Eu é.

(carta prum professor do caralho)

Um comentário:

Anônimo disse...

do carambaa!
amei
sabe q nem rimbaud...(até aprece cult!)
je cést un autre
bjos