segunda-feira, abril 05, 2010

agradeço

sempre chovia quando eu ia ve-la.
Era sempre segunda e chovia.
Ela me oferecia um chá,
ou água,
ou café.
Dependendo do dia.
Me dava um desses beijos que você não deixa de olhar nos olhos.
E me conduzia pela mão por aquele corredor de mil portas.
As maçanetas eram passarinhos,
e eram tantas, tantas portas,
que eu nunca sabia quantas cabiam na imaginação,
e por trás de quantas delas cabiam contos,
coitos,
meninos torturados,
edgar allan poe.
A porta aberta,
um pequeno galho branco no vaso,
os cremes dispostos,
as cadeiras,
a cama.
A luz baixa,
o cheio de alóe.
Eu deixava a bolsa na mesinha,
a soltando num balanço para economizar gravidade.
Nos sentávamos e ela me olhava sorrindo.
A vida para ela parecia doce,
e as minhas convulsões engraçadas.

Quando eu saia com o cheiro nas minhas mãos gostava.
Levava um pouco daquele mundo perfeito comigo embora.
A janela às vezes fechada,
às vezes aberta.

Nenhum comentário: