sexta-feira, abril 09, 2010

voyeur

Se ele conseguisse ouvir todas as vozes dessa cidade
se transformaria na medusa,
ou na própria loucura.
Entre copos de vinho pra enganar o frio,
cachaça com gosto de ressaca,
programas de tv barata,
coxinhas
e coxas se esquentando embaixo dos cobertores.
Nessa cidade de mil janelas.

O homem que vai pela rua tem muito frio
e anda com as mãos nos bolsos.
Seria mais feliz acompanhado de um conhaque,
mas não é,
e se esquenta roubando o calor da intimidade dos outros.
Os apartamentos,
suas plantas, lustres,
e com sorte
alguma pessoa passando,
dando comida pro gato,
vendo tv com alguém.
Aquela luz densa e baixa,
da matéria difícil do lar.

Ele está só,
na escuridão e no frio.
Seus músculos doem,
mas ele ainda sorri.
Não há janela na qual ele queira estar,
não há moldura que o conduza,
a um novo ato do encontro
e de entrega.
Ele prefere por hoje
somente olhar,
no máximo um café,

e obrigado-até-mais.

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