domingo, maio 02, 2010

astronauta

Ela desenhava mentiras no meu corpo.
sussurrava baixinho segredos,
e os empurrava para debaixo da pele,
onde pudessem se esconder.

ela abria meu corpo num desenrolar suave de tato.
caminhávamos juntas numa espiral,
de arcos concêntricos, inclinação mediana,
em direção ao buraco negro do tempo e do corpo.

ao mesmo tempo lutávamos,
em vão.
quando me sentia fraca,
ela me beijava.

quando as mãos se perdiam
em lições há muito aprendidas,
nos olhávamos no olho.
eu a amparava flutuando sobre o quarto,

ela sorria.

estávamos na lua,
além de nós a escuridão.
a terra era cinza e estranha à palma da mão.
Não conhecíamos ninguém.
quase não havia som.
No entanto,
alguém respirava.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tenso e terno.