segunda-feira, maio 17, 2010

frene

As pontas dos dedos estão endurecidas. Se ele toca o vidro com elas sente uma espécie de dureza que não cairia bem na pele de uma mulher. A luz leitosa da manhã passava pelo vidro, pelos seus dedos, e deixava em seus olhos sem brilho. Ele agora experimenta os dedos na polpa macia dos palma. Ser-lhe áspero não era lisonjeiro. Embora viesse da delicadeza de tocar um instrumento.
A desordem do que pensa faz com as palavras também lhe cheguem ásperas. Mais do que isso - irritantes, agudas, dispersas.
Ele faz força com a têmpora para lembrar, embora entre em sonos antigos,
sonhados quiçá por outras pessoas, em tempos mais solutos.
Tudo lhe escapa, e quando enfim se lembra toma-lhe como um pesar a consciência súbita de um erro. Um erro que sabia que cometeria. O desejar sem poder, agir infantil, daquele que exclui o obstáculo pela ordem do não - não sei, não vi, não é.
Tudo lhe escapa nesse dia de curvas bruscas. Embora nada pareça ter forma, o contato com a pele é bruto, e arde com calor e frio.
A dor do corpo grita. Chama seu nome.
Os nomes da cidade lamuriam.
E se irritam, com o seu jeito frouxo.

É quase noite embora o sol seja lua alta.
Os nomes chamados não escutam,
se recusam - os pobres.

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