terça-feira, maio 25, 2010

onírico

eu ainda escrevia quando vi a tinta vermelha tingindo o alto das paredes. Saindo de lugar nenhum e entrando pelas frestas, caminhos abertos pelos cupins.
Lá fora a noite cantava o silêncio. eu ouvia sua voz, como um eco prolongado, caminho aberto pelos bichos que você plantou no lado de trás da minha cabeça.
politicamente no sim persisti escrevendo, fincando os dedos nas palavras que brotavam no papel, algo como feridas abertas, sulfurosas. Que ferviam dores antigas em remédios mais recentes.
As mulheres que nunca existiram, e que sempre me acompanham, com seus vestidos brancos de vento, dançavam a minha volta e sussurravam poemas para minha nuca cega.
a tinta, machucada pela cegueira das palavras, continuava a manchar as paredes. agora se acumulava em poça no chão no quarto. Enchendo tudo com a cor da retina quando o sol está do lado de lá.
Ouvir essa voz de mulher me faz ter saudades.
Mas saudades que não é de mulher,
não é de voz.
Vontade de pegar a água na mão e sorrir.
A inutilidade de uma sensação.
que faz a tinta desaguar em ralo,
e a dança dos ventos se transformar em sono,
e em sonho.


4 comentários:

sassá disse...

que é o que existe de bom.

esse troço de sonho


saudades de você.

voltei a ler aqui.
posso?

Ana Roman disse...

pode sempre.

Anônimo disse...

Sempre gosto quando venho aqui.
Sinto falta de você lendo meus textos. Será que lê? Ainda compartilho muitos desses sentimentos, daqueles sentimentos.. Dos que só que já teve sabe como é. Te gosto. Beijo n'ocê!

Ana Roman disse...

Ai anônimos... Esquecem da minha burrice. Quem és tu? Talvez eu leia.. Procuro ler. Mas como saber?