segunda-feira, maio 10, 2010

Maria Schneider

nessa segunda feira de noite o frio se agasalhava em cada dobra dos músculos.
enchi-amos-nos de camadas, como se o desenho das tramas saísse do nome e chegasse ao calor.
entrei no lugar levando um relógio na nuca.
tendo no alto da cabeça os minutos correndo
como se eu entrando naquele lugar e pondo-me a ser pudesse os controlar.

logo que cheguei vi.
ela parecia com a menina d'o último tango em paris.
tinha o cabelo negro cacheado.
o rosto oleoso e branco.

ela lia.
assim como eu,
sozinha,
estudando.
perdendo-se entre os minutos que pensava controlar
entre uma atividade e outra.

sentei-me como por engano na sua frente.
não ousaria o arbítrio contra ela.

no entanto, conforme passava o tempo
ela migrava lenta como mel
dos terrenos periféricos da atenção
para os olhos.

meu pescoço se cansou de levantar por ela
e, de repente,
minha boca se encheu de palavras.

as mãos levantaram-se involuntariamente do livro e escreveram:
exatamente o que acontecia.

perdi-me entre várias páginas da minha constrangida atenção por ela.
desenhei justificativas,
escondi-me atrás de palavras bonitas,
tramei com palavras o perfeito personagem,
para que quando eu a deixasse,
a deixasse com um sorriso.

dobrei as páginas sem muito jeito,
e quando fui embora
deixei em suas mãos,
sem muito jeito
e poucas palavras.







ela sorriu.

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