quarta-feira, maio 05, 2010

toada

Tudo era cheio de uma direção sem direção.

Era um piso reto de madeira,

um trilho de trem bem comportado.


Isso era dentro.

Como uma toada.

Era uma música sem alegria nem dor que seguia.

Acho que chamava o inexorável de viver.


Por fora era um corpo de devaneios.

O peito ardia quando entupia as saídas da tristeza,

os olhos se enchiam de medo quando algo parecia estar errado.

As coisas muitas vezes pareciam dar errado.

Todo mundo falava:

uma mesa de jantar cheio de cotovelos,

todos bebiam vinho e tinham batom vermelho

e cabelos pretos.

E todo mundo sabia o que era melhor e dizia.

Então estragava toda música,

porque achar não tem harmonia,

entender não dá samba.

O corpo perdido cheio de baton no rosto e vinho no peito e cotovelo nos cabelos pretos olhou

para o chão, para o lado, para o reto, para o ralo. Olhou o fora.


E continuou toada mesma.

Sem achar, nem entender, nem melhor pior ou se.

Tudo cheio

de uma direção sem direção.

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