tinha uma época em que a hora que eu mais prezava era a madrugada.
a madrugada sozinha em casa.
como uma liberdade de cães dormindo.
nessa hora guarda nenhum me advertiria,
simplesmente me desejaria uma boa noite,
e iria derradeiro depositar suas coxas nas de alguma moça.
os ladrões também estariam dormindo,
e se me vissem seriamos amigos
nessa madrugada antiga.
apenas um ou dois gatos andando na rua,
deixando-me sobras dos seus carinhos
como olhares de relance.
houve uma época em que a madrugada era minha hora preferida.
não é mais,
hoje há algo que não dorme.
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