sábado, dezembro 29, 2007
tejo
passaram-se os anos e ainda lhe tocavam o ombro e a enganavam. ninguém a tinha muito em conta, nem olhava fundo nos olhos assustados. todos os dias voltava para casa, e já sabendo andar sem encher os pés de areia, tirava as tardes para pensar.
pensava em mundos outros, tomava posse de seus sonhos, e quando menos esperava, no décimo segundo andar de um prédio qualquer, tornava-se fielmente a menina dos olhos.
agora quando as mãos tentavam marcar-lhe os membros, esquivava-se como se nunca se acostumasse. era apenas sua, pois era de todos os mundos noturnos inventados desde a infância, que eram, na verdade, as mil e uma formas que ela inventara de ser.
os dias acabavam e as manhãs nunca cansavam de nascer. quando se cansava podia sempre deitar-se na pequena parte de chão que lhe cabia e olhar as poucas estrelas da cidade. olhava a imensidão do céu e algo lhe dizia que valhia a pena. a solidão dos olhares assustados, perpetuada pelos anos todos, e olhava o céu e se sentia olhada. e o vento batia e lhe contava as histórias que os homens esqueceram de contar. e pensava no mar para quando se sentisse muito nua, e ele pudesse a vestir.
pisava nas folhas porque elas estavam secas e estalavam do gozo de não estarem mais vivas. dos homens só esperava alguma coisa dos olhos, que sentia vivos, enquanto calados. então a noite chegava de mansinho, e ela dormia.
apesar-de
para que alguém decida cantar.
choveu,
porque alguém quis se molhar.
o elevador parou,
mas você precisava mesmo pensar.
o dinheiro acabou,
e você parou de fumar.
viver é viver,
sempre apesar-de.
quarta-feira, dezembro 26, 2007
mentira
laticínio
dedos frios,
esvai-se o sangue.
no espelho os lábios pálidos,
no corpo oco,
esvai-se a fome.
sentir-se mais uma
outra vez
como a morte.
não sentir saudades,
não querer,
e perder,
esvai-se o nome.
segunda-feira, dezembro 24, 2007
bêbado e tarado
"sim sim
quando deus criou amor ele não ajudou muito
quando deus criou cachorros ele não ajudou cachorros
quando deus criou plantas ele não fez nada de mais
quando deus criou ódio nós ganhamos uma utilidade
quando deus criou a mim ele me criou
quando deus criou o macaco ele estava dormindo
quando deus criou a girafa ele tinha bebido
quando deus criou narcóticos ele estava louco
e quando ele criou o suicídio ele estava miserável
quando ele criou você deitada na cama ele sabia o que ele estava fazendo
ele estava bêbado e louco e ele criou montanhas e o mar e o fogo ao mesmo tempo
ele fez alguns erros mas quando ele criou você deitada na cama
ele gozou em todo seu abençoado universo."
bom humor
sábado, dezembro 22, 2007
formol
o prédio está vazio.
nenhum som,
a não ser as folhas secas a tilintar o vento.
nenhuma vontade,
a não ser a de evitar o medo.
companhia dos passos ocos
no chão de cimento.
invado o estar sincero
das coisas desta sala.
vivas longe destes olhos,
imóveis diante da porta aberta.
são orgãos e vísceras,
de matéria carcomida,
embaladas noite adentro
pelo formol e sua sombra.
esperam a morte,
suspensas,
em um tempo úmido,
e sem valor.
tocam-me o bumbo
insurdecedor,
do rufar dentro do peito.
pois já não há espera que crie acalanto,
e nem poro que resista a outro beijo.
sem vida alguma,
jaz o coração suspenso.
e não é formol, nem espera,
o líquido que o congela.
é apenas o que resta,
de anos e anos de quimera.
escorrendo pelas beiradas,
a aguardente solidão.
equívoco
nenhuma bebida, nenhum cigarro, nenhum carinho oculto por trás das esquinas. então entendia que a noite deveria ser encarada de frente, sem medo. para tanto, deram-me o riso como única defesa, e para quando não aguentasse mais, o ombro dos mais amigos para que pudesse enconder o rosto. porém, deveria acima de tudo persistir nos impulsos, e acreditar que dormir é sempre a última saída.
eis que a vida transborda das beiradas mal comedidas da vida, e que em ambiente tão infecundo, nasce um sentimento sem nome, travestido nos últimos dias pelo nome da saudade. enche-me o peito vazio desse denso emudecer, e mesmo que o saiba o nome de erro, é impossível esvazia-lo pelo tempo.
na noite proclamada, procuro as saudades, que recusa-me os olhos. e então é a primeira vez que me toca o peito algo que não via a tempos. toca-me e repousa as mãos, os dedos delicados, como o tecido da morte, por cima das veias saltadas e mal contidas. é a primeira vez na noite, e cansa-me tanto o sorriso, que nem sequer previno o ato.
pois o tempo segue sem medo, e sem medo também o inesperado ocorre. continuo a falar como se por trás do laconismo viesse a morte. sinto-me nua perante o bar que gira em voltas absortas dentro de um pensamento, e volto a me vestir, desesperadamente, com as palavras que não cesso de vomitar sobre outros ouvidos. os pressinto com o fundo de mim, e sinto infinito o negro gotejar percorrendo o meu corpo.
passam instantes. sempre instantes e as máscaras caiem. o cansaço invade a têmpora, caio de joelhos perante todo e qualquer esforço. o sorriso transforma-se em mudez, e a dor em consolo.
a mão, que antes delicada, amparava o músculo cardíaco no escuro do dentro, passa a asperamente o contorcer, como se o sangue fosse suco possível de infeliz resignação. o coração freme a cada aperto de mãos fortes, e sem resistência, cede à tristeza e seu estandarte.
o nada, antes previsto, devolve à palavra o poder do dizer mal, ou bem. maldição consumida em verbo, a lua amarela postada no ar que dizia aos incautos - mais cuidado. e bem a lua que da dor sabe, repetindo o não adiantar do cuidado, da precaução, ou dos pés calmos. pois quando o passo é largo, olha-se para o céu, e eis-se deslocado, novamente, na solidão de um erro.
sexta-feira, dezembro 21, 2007
quinta-feira, dezembro 20, 2007
so nice
faz bem pros olhos, e para a alma.
chega com esse cigarro mais pra lá,
para de sorrir pra parede,
olha fundo nos meus olhos.
eu te engasgo com o meu olhar,
mas sei que você só quer se perder.
a cada esquina sem encontrar as palavras certas
- não encontrarás.
try
os olhos
esperando
um mundo
que se moveria
a cada vez
que as pálpebras
se fechassem.
ao contrário,
para além
do tempo
restava
apenas
o
sono.
segunda-feira, dezembro 17, 2007
gibraltar
enquanto por aqui chove quase todos os dias, e as plantas vão vencendo a dureza da pedra com a umidade da vida, penso em um tu que certamente não é outro que o próprio.
quando o vento bate nesses altos muros e ainda se vê o mar, a solidão sibila os caminhos tortos que levam às cidades, e os pássaros negros voam em outras direções. então, és tu que me faz companhia, presença opaca por trás do vapor do chá, pressinto os teus olhos enquanto leio os livros que me trouxeram até aqui.
e no entanto estou aqui e te escrevo. pois diz que não estás. que não és. esse tu inventando quando erámos jovens. diz que há outro lugar, em que os carros passam com fome de esquecimento. e que os mortos são sempre mortos por inteiro.
diz em tuas cartas que sente a mesma falta, mas não vês, a falta como os buracos negros criados por presenças que não podem ser substituídas por coisa alguma, sequer ar. não vê os meus olhos por trás das janelas, à espreita. nem os meus vícios nos personagens dos romances.
não sabe-me, nem sequer pressente. inventa outros ares, e com eles engana minha ausência.
domingo, dezembro 16, 2007
waltz
e as ondas
contagios
como se ainda
a vida não passasse das mesmas tentativas frustradas
de sair de debaixo das nuvens mais escuras.
quinta-feira, dezembro 13, 2007
imaginação
com as mesmas mãos afoitas que invadiriam
o seu estar consigo. do susto provocado
te reestabeleceria do pânico com os braços
bem apertados. eis que nus,
em minutos perdidos, estaríamos vestidas de escuro,
bem no centro de tal tempo suspenso.
então o sol voltariam a brilhar,
os minutos a fugir,
e nada passaria de um sonho,
como sempre o foi.
libertango
te levava a todo lugar,
e transformava a solidão
no estandarte da tua ausência.
por mim
eu deixava a coerência de herança,
perdia todos os anseios pra crueldade,
e passava todos os dias,
te seguindo pelas ruas.
por mim
o nada seria tudo
e eu, vagabundo,
era só os olhos pro seu escuro.
domingo, dezembro 09, 2007
acalantaria
meu toque no seu sono.
perco as mãos para a vontade,
e engulo todo medo.
o dia morreu,
a noite acabou,
e ela ainda dorme.
brisa
por trás da nuca,
quando todo resto há de bastar .
não vou me virar,
você sabe que não é preciso,
pois sabe todo o meu amor,
vivo no sorriso que não vês,
embora o pressinta,
como todas as coisas entre nós.
sorrir
terça-feira, dezembro 04, 2007
ópio
todas madrugadas,
mostram-me um mesmo caminho.
é que é preciso sempre dar boa noite à morte,
dizer que nos vemos outro dia,
que já é tarde,
e que hoje fico com a vida.
nos braços
sonos
o corpo procura abrigo na obtenção de seus falsos desejos.
e a alma em pleno silêncio,
espera calmamente sua vez.
segunda-feira, dezembro 03, 2007
palatho
as transparências do vício,
e as vicissitudes do amor.
o sal torna a existência mais dura,
e o amargo faz tudo caber na devida dor.
gírus
a vida como se não houvesse meio de vive-la.
os dias como atos indecisos de uma peça por acabar.
e o acaso mordisca os meus pés.
domingo, dezembro 02, 2007
(in)gentil
o silêncio imerso da solidão engole minhas palavras.
dessa solidão para dentro, só resta existir para fora.
os olhos nas coisas. os sons do mundo.
quando as ausências passam dos contornos,
o silêncio contamina os dias.
sábado, dezembro 01, 2007
solidão
para se abandonar à distração como uma ordem.
dançam os nomes e as coisas,
nos círculos de fogo e de aço.
por entre as palavras de pedra,
eu prefiro olhar para as estrelas.
sexta-feira, novembro 30, 2007
o velho e o mar
minhas costas se curvam por anos de pesado fardo.
e o sol e a areia tomam minha pele magoada.
com cal e sem medo,
transformo toda dureza em ternura,
que é pra você deixar de ser boba.
velamento
quarta-feira, novembro 28, 2007
cem anos de solidão
e o doce gosto da terra.
os corpos cegos
procurando-se sós,
silenciosamente,
com medo de acordar.
histórias repetidas nos mesmos nomes de outrem,
como sombras extintas pela luz.
as páginas cessam,
o livro nunca.
terça-feira, novembro 27, 2007
assídia
mal cicatrizadas.
andam todas em filas,
passivas e caladas.
quando chamam seus nomes de dor
angústia, assídia, agonia;
mal olham para o lado.
preferem seguir em passo reto,
sem esperar nada,
com os mesmos olhos quietos.
sábado, novembro 24, 2007
triste fim de uma essência.
repelem o escuro com o seu silencioso gesto,
embora absoluto.
não há obtuosidade alguma que persevere sob os quartos de luz acesa,
entre uma sala e outra.
chamam nenhum nome. a lista é curta,
e ninguém nos salvará.
seguem os desenhos tecidos desde o ventre,
os padrões escolhidos por seus próprios dedos,
que se repetem até o fim dos tempos.
todos os dias,
todos.
cheios deles mesmos.
quarta-feira, novembro 21, 2007
pensamento
Não tem sol,
tampouco lua.
Atrás da porta tem um aviso,
que ninguém nunca escreveu.
Como é o pensamento sem idéia,
e a palavra sem tinta,
além do céu é infinito,
para quem tem os passos leves.
domingo, novembro 18, 2007
cascavel
desmanchando ausências em atos.
estou a poucos palmos,
sei que sou vazio transfigurado
em forma.
um pouco de luz invade o quarto,
e ainda posso ver.
aproximo-me com pouca exatidão,
não sei exatamente sob que forma o medo me invade.
temo a perda, metamorfose do pó,
se a vigília se perde em estado.
a pergunta perde-se na falta do pensamento,
se o desejo faz diluir
ou somar.
e a resposta é sempre a mesma:
ouve-se um não em cada fato,
demarcado e transcorrido.
a noite torna-se dia,
o tempo fechado.
estou cheia de nomes,
dados sem perdão.
com o passo perco a razão,
há fogo em tudo,
assim começa a ruína dos homens.
sábado, novembro 17, 2007
perigos noturnos
vírgula
o corpo estirado na varanda,
não tem para onde olhar,
e fuma os cigarros cheios de silêncio.
nenhum olhar já se encontra
.
toda intenção se perde,
músculos involuntários
e sem razão. dar-se inteira,
e não pela metade
é guardar-se para todos outros dias.
mas não um eu,
e sim um ela,
que quando a noite é escura e fria
não chama meu nome.
embora o tenha
embaixo da língua,
e longe do peito.
.
sexta-feira, novembro 16, 2007
terça-feira, novembro 13, 2007
eu preciso te contar uma coisa
na lógica que está prestes a mudar sua vida.
1 - o tempo futuro é infinito
2 - a probabilidade do homem controlar as possíveis intempéries letais é grande.
3 - mesmo se a humanidade fracassar em tal intento e for extinta, nesse tempo infinito é muito provável que uma espécie evolua de forma nunca antes vista.
4 - considerando os estudos de einstein, da física quântica, etc.. torna-se altamente provável que tal civilização crie uma máquina do tempo.
5 - logo, estatisticamente a possibilidade de voce olhar para direita e encontrar um ser do futuro é de 50%. metade para o caso de ter, e metade para o caso contrário.
esbugalhar
para que se possa chorar.
cada carne morre,
em algum lugar que ninguém pensa.
domingo, novembro 11, 2007
canalhinha
a mando,
mando,
uma resposta,
uma pergunta,
uma viagem,
de raspão.
no chão,
que arde e coça,
não pergunte,
só me ame,
amor,
não reclame,
deixa eu deixo,
passar a mão.
terça-feira, novembro 06, 2007
como se cauterizar todo o sangue dos dentes
caóticas paredes
sempre quatro
olhando a si mesmas
.
o desejo amortalhado pelo medo,
a atenção perecendo em segredo.
cada janela te espia,
enorme cidade vazia.
as valas públicas,
e as vidas vadias,
quem finge de morto,
e todos os outros:
paciências
pelo peito
sempre as palavras fazem o mesmo som
em uma só boca
uma só náusea.
o tempo corre escondido
por debaixo das visceras.
nada se pensa
nada se apanha
.
nenhum fruto
discórdia do desconhecido.
todos os segundos atentam
para esse eterno inomiável.
no escuro resta opaca meia vida da transgressão.
trabalho dos veios das sombras,
trama de mãos delicadas,
inventar a vida que já nos basta.
segunda-feira, novembro 05, 2007
trama
sexta-feira, novembro 02, 2007
cafundó
atrás de mim tem o sol e tem a terra,
e mesmo assim é embaixo dos meus olhos
que você escolhe estar.
o que temos a nos dizer
é quase nada.
as manhãs se parecem,
e é quieto o nosso ser.
para ouvir o silêncio
tem que ter apaziguamento.
tem que virar o barulho do silêncio,
pra começar a escutar.
sexta-feira, outubro 26, 2007
casa 8
ímpio,
falo da superfície escassa
hábil criatura
volúvel
primária
.
deita-me as horas do melhor sono
em forma de delírio.
cansa-me a pele,
apenas,
durante todo o dia
deixar-te a ferida aberta como solução.
borbulha em forma de nuvens isso que te foge a boca,
enche-me as panturrilhas.
sem emoção nada
cheia do que te fala
do seu não ser inteiro e sem perguntas
mas ainda tu
há tu
que me questiona.
questões longas dilatam nosso labirinto.
cai a noite, e menos ainda, ele descansa.
não há,
afoito,
luz.
frio ferro e fogo,
nossos olhos se queimam na água
inteira fome
medo
somos criaturas do medo.
de deus nos olhos,
e de outras dores.
quarta-feira, outubro 24, 2007
poeminha de quinta (categoria)
sorrisos,
para distribuir como flores,
ou pequena nota de antemão.
como um poema frouxo
na extensão da face.
deles roubaste-me os melhores,
os risos mais mansos,
a cada olhar correspondido,
com ternurna sem medo,
e estar sem decisão.
roubaste-me sim,
pois não foi de bom grado,
nem escolha de fato.
tão logo chegavas,
já estava,
minha boca tola,
a sorrir como desgraçada.
foi então que vi ser tudo de graça,
(tudo).
pois talvez não tenha entendido,
ou pior ainda,
nunca ter visto.-
-todos meus risos mais mansos,
guardados só para você.
sábado, outubro 20, 2007
quarto andar
e a fome continua
seca e surda.
parece justo,
o eco das palavras
e a falta
do excesso.
a manhã distrai os sentidos,
o erro ébrio sem perdão,
duas vezes cometido,
é a farsa
e a solidão.
terça-feira, outubro 16, 2007
segunda-feira, outubro 15, 2007
corpo rio
- você me dói como a umidade negra da pele que cessa de estar num rio. calor intrépido da derme contra a água da carne. os lábios frios sem medo. como tal, um abraço inesperado.
quarta-feira, outubro 10, 2007
segunda-feira, outubro 08, 2007
diálogo
em cada gole,
demorado para desculpar
o olhar.
não entender - eu não entendo,
pois esse vento
quem viu atrás da janela ficou.
eu te vejo e isso persiste,
é de rir de graça que eu gosto,
e eu tenho rido até chorar.
quarta-feira, outubro 03, 2007
rei de paus
impressão opaca.
tudo que é reflexão revolucionada do instante,
não há nada.
além sobra,
de um espelho dentro do outro.
as marcas na lama,
são feitas de sombra.
tudo o que é volta a ser
a palavra exata.
se juntos ardem
ainda me resta saber
o que um espelho no outro vê
se o nosso olhar é de graça.
terça-feira, outubro 02, 2007
tento
alguém canta,
sem nunca mais parar.
passa o tempo e eu imagino
mergulhar fundo
em um teu perto do que tenho.
nada quer dizer tanto
quanto resta de nós-duas.
passa a vida
e eu só quero te ter sua,
para ainda assim estarmos mudas.
chega a manhã vento para te ter,
e eu te tendo, eis que estou.
quinta-feira, setembro 20, 2007
zinco
ouço a música feita com a sua fome
e meu pescoço se prepara.
eu fecho os olhos e me deliro pra frente.
segunda-feira, setembro 17, 2007
lado b
no escuro não ver lágrima
pra lavar a minha dor.
dor foi e não partiu
esse vazio só acaba
na próxima temporada.
domingo, setembro 16, 2007
gutural
os céus que abatem a vegetação rasteira
nele o mar bate.
eu não me importo,
só um pouco ao menos,
pra que eu possa ganhar ar (e tempo).
cada dia que passa, eu não tenho medo.
quinta-feira, setembro 13, 2007
cerco
em cada resto inoculto dobravam mil decibéis. ébria cissão entre o fora e o dentro, me esparramava com a boca enlameada sujando os seus tapetes. pouco me importava. era então ódio do começo ao meu fim, o deslizar secreto do que parece mais natural, os olhos passando pela sala, fixos nas garrafas vazias que serviam nosso banquete.
olhava intermitente o casal fuso nos sofás, flutuando na música altíssima e dissipada daqueles dias. era o ódio quem tornava tudo muito natural. olhava as garrafas - as garrafas são de vidro.
olhava para o casal - o amor que é de vidro.
ato 2:
então veio o sol e diluiu tudo na rubra aurora.
terça-feira, setembro 11, 2007
tédio
as palavras cediam, eram pedras que a horizontalidade da água vencia.
eu te pedia com os olhos por um pouco de água, meus dentes estavam cheios de sede,
logo em pouco iriam sangrar. eu gritaria,
correndo por entre os obstáculos, os derrubando com beijos,
iria Gritar: quem pode saturar os caminhos nessa febre de sal,
as gengivas irão sangrar, e ninguém vai me livrar do tédio.
por obrigação
da garganta
olhos sem deixas
atos sem intenções
achar-se sem dons
umbigos
carinhos - vazios
beijos por obrigação.
domingo, setembro 09, 2007
gipsy
essas jamais saberão dos segredos por trás do meu violão.
há algo levemente azul e morno,
distrai os olhos,
cessa os vícios.
domingo, setembro 02, 2007
carta pra passado
sábado, setembro 01, 2007
estarém
segunda-feira, agosto 27, 2007
segunda-feira, agosto 20, 2007
rio
Fez com as palavras um muro intransponível, subindo cada dia mais um nível, fez do ódio argamassa dos seus riscos. Peça-me que fale tudo que já sendo, e mesmo assim quando te olho, te rogo, te perco. Faz-me todos os seres que dentro de mim se contradizem, impossível a comunhão de dois, te digo, quando começa o outro o um acaba. E então poderia te enganar nessa ladainha até o final dos tempos, a anonimidade perversa das palavras, vês, o limite frágil entre a mentira e a verdade. Antes o erro, depois o fruto. Depois do fim, segredos que a curva aguarda, faz-se sólido o teu Acaso.
quinta-feira, agosto 16, 2007
turbilhão da vida
passam nus, mas não vêem nada.
atrás das cadeiras de vime,
perto de onde os sorrisos não mais tocam,
eu não te guardo.
teus olhos
estão cegos de dentro para fora.
minha boca está seca nesses seus olhos,
eu te peço, te rogo, alguma palavra.
sempre fomos tão mudos,
mesmo quando eloquentes,
a ordem das palavras nunca mudou a ordem do silêncio.
escuta
os olhares que passam na rua.
o teu sorriso não aguarda,
nem sequer teus braços prendem.
quarta-feira, agosto 08, 2007
história
vagabundo
quando sob ele pouso meus olhos.
Perco para os pés a gravidade,
para os braços
as mãos umas vez unidas.
terça-feira, julho 31, 2007
antonico
por mais que a gente tente atingir com as palavras, afia-las como dardos, elas perdem a força nesse ar cético
peitos com coletes de chumbo
e cera nos ouvidos
vereda
sexta-feira, julho 27, 2007
vênus, meu amor
polenta
terça-feira, julho 24, 2007
lunáticos
- eu sou maluca?
- acho que não.. mamãe disse que maluca é quem mora na lua.
medula
domingo, julho 22, 2007
horus
deixa eu te dizer uma coisa,
isso tudo aqui não é real.
eu sou uma alucinação individual,
mas podia ser pior,
imagina só se fosse uma alucinação coletiva.
praia
o mar inunda.
Te tocar em cada poro,
em cada fundo,
se fosse útero.
Inunda e mata,
se bastar,
o ar te falta.
O mar à noite,
mas não tão só.
Abraço n'água,
esse todo mar.
quinta-feira, julho 19, 2007
tre
terça-feira, julho 17, 2007
ou é por quilo?
a. abate o corpo a falta de coragem
b. finjo que disso não sei
2. olho-a bem, franzo o cenho, e me entrego
a. sobe a boca resquícios constantes Ácidos
b. ponho para dentro sem nem saber
3. depois de umas 5 ou 6 me embriago
a. diluída num clown patético
meio amargo
ainda
tempo vento e morte - persistem,
pois dizem que o mundo é justo.
matéria de veia que incha e inflama,
sangue que erra num constante passar,
se fosse andar com os pés dessas dores
- bolhas, espaços perdidos,
entre isso e aquilo.
tenho certeza de que tenho certeza de que tens a certeza
E ainda somos tão pouco.
ralar o coração na falta de ter coração.
pensar nas coisas mais estúpidas por excesso de tempo,
ou de medo.
vivo (ponto final).
essa seria a palavra que eu escolheria.
sábado, junho 30, 2007
tempo demais
faço esses desenhos poucos com os dedos na areia,
o mar às vezes bate nas nossas pernas.
se você diz alguma coisa eu até respondo,
embora tudo continue calado.
os gestos e as mágoas.
as nuvens e as marés.
os amores e os ódios.
o mar às vezes bate nas nossas pernas.
quinta-feira, junho 28, 2007
pathos
as nuvens confundem a natureza da água salgada que toca o solo. não deixam de passar, em absoluto. tenho como exemplo as formas de suas curvas. idéias e mundos que passam por vezes despercebidos. a espécie de segurança da gratuidade que tem o afeto de um felino.
sou seca, rala, pouca. fecunda. não me diferencio do solo, da vegetação rara, ou então das nuvens. o ritmo da terra, batimento cardíaco lento, toma conta do meu ser. caminhada letárgica.
tais imagens sem nicho, flutuando por todos os ares, invadem-me o estar que torno como uma obsessão: repentinamente as linhas de um círculo que dele toma posse. círculos, retornos imersos nos caminhos. no meio do deserto sem fim encontro um cactus. forte, linha bruta do constraste. resistência agreste da vida que se cumpre. signo inteiro da fecundidade.
fluxos do tempo, e do meio, no outro áspero, desfaço-me da pedra, despojo-me da areia que formou-me, entrego-me. mato e morro. fim concluso da procissão, sem linhas retas. libero-me da minha carne, arrebento-me no meu ser. sou outra vez.
quinta-feira, junho 21, 2007
tereza
a fuga da fuga
em doses homeopáticas:
cerveja a cada dia,
pedaço a cada esquina,
eco sem sujeito, óculos sem miopia.
não se procura e não se acha, enfim a sua resposta:
o nada.
no mais, só
as palavras
que nunca
se calaram no ar.
domingo, junho 17, 2007
desconstruindo werther
eu lembraria do seu sorriso,
e não é que quando me encanto sei transpor isso ao outro, no instante de uma palavra?
por trás de cada sílaba antes o ritmo do que o fatídico sentido,
sei sim,
e o sorriso de lia.
a faria um samba, se é que tu me entendes.
como uma ladeira iluminada de sol,
como uma saudade,
gato, gato. rato. triste saudade.
triste saudade de lia.
chá de romã
pois não é como se fosse cheiro algum, pois está lá. é o profundo cheiro do nada. enquanto isso volto a minha atenção ao filme que passa. que babaca, sem propósito algum. e eu penso no que penso. minha cara, sem propósito algum. como se nadasse e meus pensamentos fossem espuma do mar, não importa que não tenha nada além da espuma, o que importa é que eu sinto.. :que há algo, só não sei se já encontrei.
dou mais um gole no chá,
como um tapa na cara a verdade se revela:
o profundo cheiro do nada.
sexta-feira, junho 15, 2007
debaixo do pano
entre as suas expectativas, e o que o punho fechado guarda.
-não. eu não falo de pombas voando.
eu penso no que do tempo me aguarda.
este é o se perder: esperar.
o pôr do sol tem hora marcada. quase.
mas nada tem hora marcada.
-é que me perco.
poesia de cego.
mágica pra ninguém ver.
mudar as expectativas.
quarta-feira, junho 13, 2007
leão
sabe que seus olhos estão vermelhos.
ângulo torto de si mesmo,
descobrindo o mundo que fez-se sozinho nas noites passadas.
levanta, olha.
o que mais desdobra da falta aguda do pensamento?
o mundo se arrepende,
sustentado na fraqueza ébria de seus joelhos.
quinta-feira, junho 07, 2007
terça-feira, junho 05, 2007
quem sabe um dia
procuro e acho que sei,
mas nunca sei.
fecho os olhos de desespero. abro os olhos e me tenho.
domingo, junho 03, 2007
desconstruir
para escutar tudo o que você tem a dizer.
quem sabe assim eu ouça o que sempre quis ouvir:
os seus fins vão ser os meus começos,
a minha mentira vai ser a sua verdade.
viver
não há algum contrato
que de fato
nos proteja.
nascer sem petição,
morrer,
por ventura,
por acaso.
e entre isso e aquilo,
todas as pedras,
no meio do caminho,
no fundo do sapato.
quinta-feira, maio 31, 2007
total
instantâneo
bike
segunda-feira, maio 28, 2007
7
navego pelos mares secos que foram essas horas,
reformulo as palavras que ficaram suspensas no ar.
os rostos,
os rostos, todos deformados:
será miopia dessas gotas d'água?
a palavra nunca.
o braço imobilizado,
ato sem fim,
semi círculo.
por essa estrada
nunca avançará.
dos grãos de tempo,
castelos de areia, pequenos contos.
compulsivamente me alimento
dessas migalhas que achei pelo chão.
se todas as fomes são infinitas:
enfim o seu não.
por tudo o que foi fácil,
não suprirá a falta:
vejo a vida com suas tetas imensas,
apagando brancos incêndios.
sob os olhos de aproximar-se
de um instante, tempo e espaço,
descubro a matéria do vazio:
eis a infinita chama.
a dureza desses passos,
marcas fundas no solo.
o tempo passa:
estamos salvos,
ainda somos.
sábado, maio 26, 2007
é lava
é se encontrar chorando, perdida em si mesma,
e não se encontrar.
e não ter pra quem ligar.
é uma ladeira que não dá pra enfrentar sozinha
e não ter com quem ir junto.
é fingir que não precisa de ajuda e então ter que não precisar.
é querer se matar, mas não ter coragem.
é gritar e gritar e gritar, e não saber gritar,
e precisar, e não saber precisar, e não vir ninguém. é isso.
é essa lágrima que caí sozinha.
sexta-feira, maio 25, 2007
que instâncias da personalidade?
- despressuriza bicho.. escreve, escreve tudo! pôe no papel, finge que isso tudo é deles também...
- eu não quero escrever. eu quero viver.
paúra
tá tão frio, e a cidade anda tão bonita. a rua tá cheia de pessoas com frio. não importa muito o que elas pensam, elas são o que elas são de qualquer maneira. pensamentos são só espaços brancos com desenhos. uma mulher de casaco roxo escova os dentes e com os olhos olhando pra dentro pensa em qualquer coisa. eu olho pra ela e eu vejo ela. basta olhar pra dentro.
faz uns dias que tem uma dor no peito que atesta que eu existo. minha hipocondria vigilante já tentou mil diagnósticos, de gases à botulismo. parti pra freud, pensei quais eram as pulsões que eu reprimia, em que buraco eu me metera. mas prefiro não pensar assim. eu sei que se a vida deixar de ser só esse empurra empurra, se escondendo nas entrelinhas para não tomar chuva, eu vou chorar. dor no peito de se encontrar sozinha.
sabe, cada dia mais eu penso que existir é isso, existir mais por inteiro, é achar-se sozinha.
eu me prendo às pessoas, às teorias, aos livros. ao mar. talvez tenha desaprendido a viver sozinha. a estar sozinha. eu sempre penso que uma música vai me salvar. o que eu tenho é medo.
quarta-feira, maio 23, 2007
concêntrico
A luz é pouca. É luz da madrugada. Os grilos me trazem esse silêncio imenso que chamam solidão. Não ligo, sou esse outro. Corpo ao vento. O redor me engole como seu, como um nós. Inventado, já que me esqueci.
Aos poucos as unhas vão se encardindo da terra que não consigo evitar, os pelos vão se coçando da grama que incomoda entre as pernas, e já nem incomoda mais. Não há luz que me chama, não há voz, nem mesmo sopro. Não há ondas que não poderia romper.
Talvez venha um cão aos meus pés, cumplicidade de olhar no mais fundo de nós dois. Ele se entrega e eu me entrego. Amor barato que prefiro. Estar só, sem vozes. Reverbera o som e o calor.
celeste
todo o tempo que passa
sabe mais quando não diz
tanto bem e todo mal.
nas nuvens
dá-me tua mão.
hoje eu vejo tudo com novos olhos,
olhos de quem nunca viu.
aqui dentro como flor única,
pés decalços em piso de madeira.
indistinto ir sentindo
corpo todo, alma aberta.
esse existir leve,
carinho de pluma,
passos de lebre.
escuta esse silêncio todo,
e me dá tua mão.
sábado, maio 19, 2007
brother jack mcduff
- não sei. impossível reter os flocos das pessoas reais. por isso que eu não gosto de cinema, os personagens quase nunca tem mapa astral.
- mas quiçá... quiçá criar é quase psicografar, umas coisas de inconsciente coletivo, manja? mapa astral, jung....... física quantica e qualquer coisa é possível..
- inclusive criar.
- vai ver..
papirus
já não sabe mais das histórias do passado,
não é lúdico, tão pouco sábio,
sem matéria, ou futuro.
peito agora de se ver por inteiro,
quem sabe sentir o momento.
fluxo, instante fluxo do erro.
quarta-feira, maio 16, 2007
desabafo
segunda-feira, maio 14, 2007
faísca / retalho
dúvida de que essa existência ébria e escura, por só, fosse como minha. era nada! era pouca. aprendi quando me esqueci, porque me encontrei no ato. no que de mim retornava quando eu fingia não ser. me encontrei em todos os enganos, pois me entreguei. foi assim que novamente o erro encheu minha boca de palavras: quando a melancolia com sua ladainha atraente conquistou-me numa esquina. encheu-me matéria vazia no peito.
bebi, e não voei. só pude andar. princípio do fim a falta. enleio da matéria. é isso que somos.
o oco inadimplente retorna. e então somos nós.
sábado, maio 12, 2007
pra não perder
tenha signo de também ser útero,
tenha olhos de entender no escuro,
quero um homem que nunca seja bruto,
da poesia ser também mulher.
sexta-feira, maio 11, 2007
manga
é uma fruta - me dizem.
pego uma manga na mão
procuro uma fruta.
a mordo - procura a fruta da fruta
a mordo - a devoro - a sou.
procuro a fruta da fruta
chego ao caroço
e me encontro
a fruta está no oco
muito pouco
se não for para ver o time ganhar, basta andar pela cidade. eu ouço melodias no meu oco, eu sorrio de uma alegria qualquer. esquinas e esquinas, anônimas. esses são os meus passos (eterno desconhecer de suas meninas). o céu me cobre, a rua me cede,eis que invado a vida, com seus pés de aço: venço seus vãos. assim que esvazio o sentido da inversão que é ser para dentro. a cidade me faz tão pouco, me rareia, não passo de um não nome. andar desse existir para fora.
quinta-feira, maio 10, 2007
cruz das funções
segunda-feira, maio 07, 2007
mao
pensar é sua terapia
me diga dos seus dias
deixe seus pés no chão
não voe tão alto
é árido o ar
rarefeitas são as sombras.
o caminho e as pedras
as pedras e o caminhante.
(sim, tema. pois o erro também está lá) .
o fim não existe até chegar,
qual projeto que não é como horizonte,
qual delírio que seca antes da fonte.
o caminhante, meu amigo,
é o todo, é o próprio caminhar.
domingo, maio 06, 2007
metafísica
sei desse marca passo
dos erros
finjo a nostalgia do controle
tensiono todos os músculos
nos dedos evito
abandonar-me num largo precipício.
e penso
e sinto
e tento
o fim é sempre o fim
e o erro é inevitável.
quarta-feira, maio 02, 2007
mariposas
eu descascava a vida como se fosse uma cebola
e em poucos instantes lá estava eu
e a vida. sozinhas.
algo como se luz
de cozinha iluminasse tudo.
não estava preparada
e chorava molhando os ombros fortes
do meu pai.
segunda-feira, abril 23, 2007
rogar. em vão
quem tem paz e dorme não precisa de palavras. te inveja um olhar macio que pouso na-tua-nuca. a maneira qualquer como esparrama os cabelos, sem jeito, na cama. o sono sem culpa e ateu. consolo-me com um apesar-de. é um desconso-lo do ser. sou toda pra fora. esbanjei já minha dor ao nascer, e todas as lágrimas no decorrer dos dias. sou vasta e árida. já passa meu tempo e prevejo. por isso os sábios sorrisos que os bons velhos me dão na estação de trem. eles preveem, além deles, o meu fim. sinto-me num aquário. viver sufoca-me como não ser água, como não ter ar. tem vezes que é impossível não debater-se no medo de nunca subir a tona. tem vezes. como não dormir por medo. lisura da pele quadrada. estou naquela casa e só eu posso me salvar. do medo. eis aí a ambiguidade.
amanhã é terrível. não suporta minha cabeça num travesseiro.
a madrugada conforta-me. parece imensa. seu tempo mente. é eterna, e estou só enfim.
a luz do dia que virá é como viver em claro. desta vez é o sol que obscurece as ilusões (sim, na ordem inversa). trás os passos curtos e garantidos, e também sombras. na noite tudo quanto é gente é sombra. de dia só restam os espelhos. vis. não me confortam. cínicos. os odeio. minha morte será como a noite. será uma madrugada sem fim.
consolo
a água do chá da menina fervera. ela, sem medo e etereamente terrena foi à cozinha. da altura infinda dos seus pensamentos, o menino despencou com ossos fracos (perdido no seu próprio vazio. nos seus pelos feios. seu olhar de monstro. seu nome de joão paulo). caiu dos seus infernos e paraísos criados no erro que concebia, segundo após segundo, querendo quem não o queria.
domingo, abril 22, 2007
juventude viada
ah! esses dias em que alberto caeiro é precioso, pra livrar-nos desses maldito martírio de Ser. muito difícil viver em paz nessa panqueca de ecos freudianos, niilistas, moralistas, pugilistas; transformaram existir numa escolha de vida. decidiram por quais vias devemos testar nossos passos antes de andar. eu só quero andar, e gritar, e esquecer toda essa porcaria sem sentido que andam ensinando por aí. enfie kant no cu, cuspa em nietzsche, ponha o dedo no nariz de adorno! cansei dessa briga efêmera de grandes autores anônimos, de pequeninas letras xerocadas. eu quero ver o mar. em paz. e formular minhas próprias teorias.
-é cara!
sexta-feira, abril 20, 2007
beleza pura
Caetano Veloso
Foi um pequeno momento, um jeitoUma coisa assimEra um movimento que aí você não pode maisGostar de mim, direitoTeria sido na praia o medoVai ser um erro, uma palavraA palavra erradaNada, nadaBasta quase nadaE eu já quase não gostoE já nem gosto do modo que de repenteVocê foi olhada por nósPorque eu sou tímido e teve um negócioDe você perguntar o meu signo quando não haviaSigno nenhumEscorpião, sagitário, não sei que láFicou um papo de otário, um papoIa sendo bomÉ tão difícil, tão simplesÉ tão difícil, tão fácilDe repente ser uma coisa tão grandeDa maior importânciaDeve haver uma transa qualquerPra você, e pra mimEntre nósE você jogando fora e agoraVai embora, vá!Deve haver um jeito qualquer, uma hora!Há sempre um homemPra uma mulherHá dez mulheres para cada umUma mulher é sempre uma mulher etc., talAssim como existe disco voadorE o escuro do futuroPode haver o que está dependendoDe um pequeno momento puro de amorMas você não teve pique e agoraNão sou eu quem vaiLhe dizer que fiqueMas você não teve piqueNão sou eu quem vaiLhe dizer que fique…Mas vocêNão teve piqueNão sou eu quem vaiLhe dizer que fiqueNão sou eu quem vaiVocê não teve piqueNão sou eu quem vaiLhe dizer que fiqueNão sou eu quem vai
basta quase nada
-tem vontade de encontrar as paredes (as perguntas)
-tem vontade, a máxima e única de abrir os olhos.
mas não. adivinhe o som do vento no escuro da sua própria vida,
e não abra os olhos tão cedo.
ceda ao exagero,
solte seu corpo na falta de acreditar na gravidade.
reinvente os nomes das cores.
'seja quem você nunca será.
não tenha medo do que virá - ele virá.
porenquanto abrace o agora e seu nome de erro.
nomes não passam de nomes.
eu só acredito no rio que passa dentro da minha aorta.
quinta-feira, abril 19, 2007
gabriel
pregos na parede,
dias da semana,
planetas flutuando.
doze passos de cristo,
anos de castidade,
meses do ano.
três pernas se bastam,
duas pernas procuram,
uma perna sozinha,
perde-se ao vento.
quarta-feira, abril 18, 2007
boi voador
dizem que a pior coisa a fazer é se abandonar. eu digo que são patéticos os apelos do corpo. não sentir. não ouvir. não ver. primeiros passos pra vida de fato. travessia da indiferenciação. liberdade de regressão evolutiva.
tia edna
eu passo os dedos na linha da sua coluna, e acho tudo isso uma bobagem. te vendo daqui, dormindo. a ternura é quase a única coisa que toca meus poros.
domingo, abril 15, 2007
hein
sexta-feira, abril 13, 2007
com um laço vermelho
ele ouviu. e depois ele lembrou. porque afinal já fazia muito tempo que a vida era bonita. agora ele se debruçava em cima de uma madrugada doente (os fluxos doentes da cidade, os canos, os ratos - o porco. que matéria mesmo essa que o lembrara do "idiota"?). tarde demais pra lembrar. debruçava-se sem sono em cima da cidade e de um lado pro outro na sua cabeça ouvia "a vida é bonita". tanto tempo. era o tempo ainda que as coisas partiam de direção, o céu era azul e por isso a vida era bonita. depois tudo mudou, foi bem quando ele quis entender o que entendesse, sem que o dissesem. quis achar sartre um merda, e achar que podia ser dele também as verdades. foi um certo dia aí que ele descobriu que pra fazer uma verdade bastava uma mentira. e agora ele olha o céu e não vê nada. são olhos mudos. e ele come salada, e se sente uma vaca. ele digere tudo em pedaçinhos e não come nada. ele se debruça na cidade, e se sente olhando a grama verdinha e sem graça do pasto. ele come, vomita, e come de novo, a mesma massa verde (verde como o fundinho ralo que ele guarda na parte debaixo do estômago). caga sempre a mesma merda. e quase não tem mais paciência. dizem que a mentira é a verdadeira transcendência humana. a mentira é tudo e a verdade é nada, e nada é tudo. e todo mundo só quer trepar. mentira. tudo mentira. ninguém quer porra nenhuma. se tiver alguém que diz que quer chama aqui pra ver. lorota. medo. só medo. é só isso que te faz achar a vida bonita. e agora bem bonitinho senta e fica com essa mentira que eu fiz de presente pra você.
só pulsão, hein
graças a deus não pego mais ônibus, é uma hora a menos pra se torturar. hoje em dia eu só penso antes de dormir (tem reparado as olheiras?). e é também quando eu menos penso. ou menos existo. eu mais nada. nem dor eu tenho mais. eu tenho só esse nada, só lastimo que ele seja imenso. meio fora de moda, mas tenho que admitir que as vezes o meu coração desiste de ser músculo, e vira mar mesmo. juro mesmo, cê devia ver ele inundando tudo. e eu fico lá sujeita a esse corpo ridículo que eu nem pedi pra nascer com os olhos bobos perguntando o que aconteceu. só vou saber no dia seguinte, manchete: inundação na avenida sumaré, subtítulo: nenhum ferido já que chave não corta. (pelo menos foi isso o que ela pensou, ainda bem hein. porque o pai disse que a história era outra). preciso de alguém pra me dizer se a vida é mesmo esse eterno esvaziar-se pra não estourar. não estourar. melhor que terapia comprar uma porção de alfinetes bem brilhantes. ou bomba de bicicleta. ou morrer todo o dia um pouquinho. antes de dormir, os seios da morte seduzindo. e o sorriso de dentes cheios. pílulas da morte do doutor xavier.
dentro da vista
quinta-feira, abril 12, 2007
amnésia, hein
a verdade é que ninguém pode confiar na memória, mas é possível que tenha sido mais ou menos assim:
o sol batia no conjunto de prédios do outro lado da rua, era um conjunto grande, cinza, quadrado, me lembrava às vezes 1984. e o sol (ou melhor, o reflexo dele no prédio) era sempre alaranjado. talvez porque eu sempre chegasse um pouco antes do entardecer, ou talvez porque os caprichos do tempo preferiram assim.
era um tempo em que se bebia demais, todos os dias. íamos quando podíamos, assim como os outros, e não saíamos nunca mais. não que fosse nossa culpa, não era, definitivamente. eram os músculos que se amoleciam nas cadeiras, os amigos que puxavam com suas mãos ocultas por mais alguns intantes da sua presença (que sempre duravam horas), até os garçons que nunca paravam de trazer cerveja eram mais culpados do que nós.
uma hora ou outra o nosso contínuo esforço de ir embora perseverava sob o ímpeto daqueles Outros, que queriam fazer do nosso fígado patê pra passar no pão. íamos embora então, às vezes cabisbaixos, mas na maioria das vezes esquecidos de qualquer coisa (que talvez até hoje não lembramos).
o gosto amargo, concentrado, da cerveja ficava nos cantos da língua, tinha o rosto suado, os cabelos despenteados, mas a certeza de que a vida era linda. andava tonta pelas ruas, preferindo sentar por poucos minutos nas sarjetas do que pensar em voltar pra casa.
Pois bem, voltei pra casa, e aqui fiquei... já passaram os dias que eu me esquecia pelos cantos. agora são os dias que a gente se lembra de si (isso são o que Eles dizem). todos os dias escrevendo o nome em todos os lugares, assinando os papéis da burocracia, condensando números ao lado do seu rosto. sim, Eles nos lembram de quem somos todos os dias. eram aqueles os dias em que a gente se esquecia. pois sim, pois sim.
terça-feira, abril 10, 2007
caminho
outro suspiro sai à fonte. como os minutos que levam um pensamento. exatamente como eles, insuspeitos, embora se percam com a menor desatenção. estou atrás desses olhos. firmo-me atrás desses suspiros. me admito. pois sim, fui eu. quem irá elevar a voz perante esses descuidos? se meu crime não passa da admissão dos teus. pois levo como arma, e apenas isso, um meio sorriso. é que então vou aprendendo esse ser. enquanto inundo-me, o tempo passa sob o meu corpo. ou talvez seja o contrário, o tempo convencendo tudo ao infinito. não saberei, ainda não. embora persista, evito pisar em falso. e por enquanto basta. possuo algumas dessas verdades, talvez sejam delas a cal dos meus passos. sobretudo quando minto e ardem feridas abertas nas costas. há tudo o que imagino ser, imaginando apenas pois há medo. e por fim, há o amor, e acima de tudo é o amor que admito. e então ser torna-se sentir, que torna-se saber. e então sinto que passos caiados, que nuvens, que sonhos, delírios, tem a latência delicada dos traços brancos do ópio. e que sorrisos deixam de ser armas.
terça-feira, abril 03, 2007
descarte descartes
ai das emoções falsas que andam escrevendo por aí,
quem se negar emoção devia .........
......meu corpo vai pedindo isso tudo que sente,
gritos e risos desconhecidos e - sem sentido.
é que eu fecho os olhos e tenho vontade de dançar,
vou dançar, a abôbada celeste me cobre a cabeça.
eu vejo as estrelas com as mãos.
e só então sei que estou com sede de me cobrir toda de mar.
mar me leva, me cobre, posso estar nua, posso estar viva,
que há o mar, há o escuro, pra me engulir.
eu não sei falar as palavras que o corpo me pede,
só ele diz,
ele chora e sente fome,
e grita.
eu me deixo porque vou aprendendo que nós dois nos-somos,
sem medo,
como no mar, sob o céu,
o mesmo mar.
domingo, abril 01, 2007
cactus
ter uma sede árida do outro.
árvores crescem
filhotes viram adultos
porque tem sede.
não é nada além disso estar vivo.
cara batalha
sei que a vida é vontade de morrer,
e espero que arda mesmo.
eu sei que vou beber,
eu vou escutar chico e chorar.
eu vou arder e vou gozar.
e vou morrer, e vou morrer.
só porque me cansa viver.
ainda, depois, espero
ser abandonada no meu próprio desperdício,
ser o resto de um rarefeito excesso.
sem desprezo ou pena,
ser tão miseravelmente triste,
que se torne uma certeza.
deixa balançar a maré
como um quadro na parede que por mais que você tente ajeitar,
não rola.
você solta os dedos e o quadro entorta de novo.
queria que freud me contasse,
o que é ser torto e o que não é.
quarta-feira, março 28, 2007
psicótico
aprendiz de lobos
eu era e sou de novo
traço uma linha no teu estômago oco
há reflexos no teu olho - eu vejo outro
é o que fez e faz o louco.
domingo, março 25, 2007
sobre a arte de contar histórias
como uma novelo de lã que aos poucos se desen-rola
talvez um velho e um banco
ou mesmo uma distração para o estado de vigília
digo que é fazer pouco caso do princípio de realidade
e fazer do dia o príncipio da vida
dia de semana
a paisagem eram os rostos bonitos daquelas meninas desconhecidas.
me lembro bem da música que tocava e das conversas que, apesar de tudo, não mereciam ser lembradas. lembro sobretudo de uma delas, que floreava as bobagens como se fossem formais epitáfios, construindo sua fala com o resto do corpo. era uma boa época para ser bonita. enquanto ela comentava borges eu focava a luz que vinha do lustre atrás de mim, com uma taça de vinho, no seu rosto. o jogo era esse, enquanto ela tentava se impor, eu a perseguia com a crueldade do vinho. é sempre assim que os minutos passam, até o jogo botar suas visceras para fora, até o inevitável instante em que a verdade, e o tempo, mostram o seu calibre inevitável. eu queria ter aquela menina num gozo. foi assim que eu perdi o jogo.
segunda-feira, março 19, 2007
escrever
dessas letrinhas fazer farofa.
domingo, março 18, 2007
macunaíma
viva
freud
limbos, de espuma, e ópio.
espaços e gravidades alterados,
sou pura e não invejo a vida.
quase que só erros,
sórdidos desejos,
eu estou cansada desses erros.
quero dormir,
o sonho é a gravidade zero do desejo.
domingo, março 11, 2007
sábado, março 10, 2007
bolero de ravel
- de repente o corpo,
seguindo os fluxos do mundo,
vai se envolvendo em si mesmo,
murchando,
passando o ponto.
torna-se repentinamente esquálido,
os lábios, os músculos, tornam-se acinzentados,
e, de compasso em compasso,
vão perdendo seu sentido.
o que era antes carne putrefata e antiga
torna-se o pó sem vida do tempo,
a forma que antes envolvia os tecidos comprimidos
desfez-se nos desenhos que o ar, a gravidade,
(e invariavelmente o destino),
desenharam ao chão.
do pó, rasteiro e raro,
o vento fez o vazio.
e o vazio, que já era pouco, assim ficou.
segunda-feira, março 05, 2007
nuel
sentado no quintal de casa a tarde me engulia enquanto eu experimentava o gosto ruivo e ácido do uísque na garganta. ali, me sentia só e vivo como as criaturas fundamentais da terra, talvez um córrego, ou mesmo uma pedra. ali, me sentia preso a vida por uma força sem vontade e sem questão. vivo como uma coisa morta.
é porque repentinamente não queria mais fechar os olhos, ou mesmo pensar em lugares distantes. toda idéia de fuga ou evolução me dava nauseas. a vida deixara de girar em círculos, de formar labirintos metafísicos, de dançar entre promessas. a vida era a ordem que o silêncio ditava. era o retrato do instante em que o sol se punha.
terça-feira, fevereiro 27, 2007
teorema de peixes
pra te fazer dormir,
invento uma palavra.
mesmo que nunca possa deixar de ser-me com tantos dentes,
a verdade é que pra você eu também inventaria felicidade,
inventaria o subjulgo da solidão,
a dissolução dos egos,
a subnutrição da angústia.
invento tudo e tanto,
que as vezes até duvido
se esse mundo não fui eu que fiz pra você.
mas fecho os olhos e você aceita,
e dorme com o descanso afoito das crianças,
no meu ombro esquecido por trás dos seus cabelos.
segunda-feira, fevereiro 26, 2007
helion
seguimos juntos por esses vales,
bebemos águas frias e raras que descem nos córregos,
nós,
o pastor e as ovelhas.
na verdade são todos dias de sol,
e de som.
seguem todos tranquilos,
e quando não,
é porque ao final das contas há sempre uma ovelha negra.
compreendo então, de certa forma, a vida que arde em mim e arde no mundo que há dentro e fora de mim, compreendo o arder, compreendo essa força energética imensa que me leva a crer num certo algo a mais. compreendo como a magnética subterrânea dessas verdades não me deixa seguir calada com o meu rebanho.
então apoio nas mãos (que surgem dos antebraços dobrados) o queixo, e me abatem as ovelhas negras, persuasivas, sinceras. a força fundamental da vida que não se deixa enganar por esse cotidiano corrosivo.
e o medo por fim. o medo.
que nos segura até o fim dos dias.
como pobres pastores arrebanhados por suas ovelhas.
sexta-feira, fevereiro 23, 2007
vive la fête
sexos francamente nada
uivos
perpetuar sigo indo
costas quentes
e fez-se a luz vermelha e os corpos nus em profusão
há uma pequena mesinha preta, circular
há três ou quatro copos largos cheios de gelo e de um leitoso líquido transparente
ninguém liga pra eles,
exceto um cara magro de sobretudo que excluído da orgia decidiu odiar todos aqueles corpos futuramente inertes.
a luz combina perfeitamente com o mamilo sendo lambido.
a rua lá fora é escura e fria e deserta
quinta-feira, fevereiro 22, 2007
quinta
já não sei mais se para aninhar-se nos braços de um herói esquálido, ou mesmo para que saibas da certeza do perigo. transporto-me para outro plano, como sobreviver numa batalha perdida. janela da cidade, um bocado de compaixão, canto-te com o amor que me resta, e o vinho acaba em um instante.
quarta-feira, fevereiro 21, 2007
exercício de abrir e fechar os olhos
como quando o tempo jorra e faz da tarde cachoeira fechando os olhos pra ter o tudo abstrato-descabelado nas palmas das mãos - que brotam dos seios - que fazem amor - mas também lembram sempre de que a ordem mais certa é do céu pro chão.
então abrir dos olhos e ver a vida,
como uma descabida ordem.
terça-feira, fevereiro 13, 2007
menino
como um animal machucado
fumando compulsivamente com sua mãos sedentas por alcool
trêmulas e pálidas
lembro de algo
que nem sei a forma
(nem sei se existiu)
e grito, berro com ele
tento sucitar do silencio dele algo real
mais real do que aquela ostra com pernas.
eu fico com raiva e ele nunca passa do limite da hipocrisia.
papos cretinos.
vida cretina.
e eu tenho medo que a minha agressividade possa afasta-lo.
afasta-lo do que me pergunto?
ele é pálido e parece carniça
e eu não vejo vida nos seus olhos.
segunda-feira, fevereiro 12, 2007
édipo
parece que flutua no asfalto
(começa a tocar radiohead)
mero costume de estar desconectado desse mundo
tudo parece medido
quando ele chega no banheiro da mãe
e escova com a escova dela os dentes.
u-alter
divisando linhas imaginárias das certezas
sabendo o que ainda não escreveram nos livros
o que eles -ainda- chamam de loucura
havia a interface entre as pessoas e os mundos
e as idéias
que eram reais e além de tudo sólidas
tinha fatos
como o de que tudo era fluxo
e fluxo era
como os sonhos e as luzes acesas
fora disso os pesos e as angústias estavam mais perto
embora fosse perceptível claramente os nichos por onde se escondiam
ora atrás do ouvido de um
talvez embaixo de um caichinho
também no que de você me era desconhecido
por assim ser
tinha sentido
talvez seja esse o meu ponto
pois era claro
- quando não é claro as mensagens não dizem o que são
(comunicação maldita)
a loucura ria desordenadamente da realidade
como uma mãe passa as mãos no cabelo do filho
o real é tão estúpido e puro como um filho
um filho da mãe
então fechava os olhos
enquanto o vento aumentava
e enchia a noite de luz (na verdade o breu é uma luz escura)
embora levasse no rosto um quieto riso
piedosamente
quinta-feira, fevereiro 08, 2007
lagoa
ainda por cima essa chuva.
meu peito lateja,
solta as grossas gotas de lama da morte.
a verdade é que apesar de tudo eu também não poderia ver o mar:
me faria nos mil pedaços dos fogos de artifício.
o mar é muito pra mim,
assim só, e frágil.
antes de tudo eu precisaria olhar nos seus olhos e saber que você está lá me entendendo.
coisa de perceber o brilho dos olhos.
nega maluca
(pontos finais) - eu suporto tudo pois te espero.
vou te contando então da minha fome velada,
amorfa, inerte, fome dos ricos.
a fome que suplanta o silêncio da alma.
Digo - o meu vazio.
vou te suportando toda pois te espero.
eu espero quem elegerei o cavaleiro do apocalipse da minha fome.
eu espero toda vida.
toda chuva.
toda morte.
pela vida que sequer tem braços e pernas.
em silêncio que é como eu aprendi a estar.
agora me entenda. entenda o meu silêncio.
terça-feira, fevereiro 06, 2007
insônia
2. há as temeridades no meio do caminho
3. se já não é, faço de tudo uma grande mentira
4. me preocupo, pois sim, há sempre as certezas cruéis
5. eu chamo o tempo de espaço
6. sinto a tua mão no meu peito, me apertando com grave respeito, com um certo amor materializado não sei donde, sinto sua boca procurando o meu pescoço, carnes nuas, fazendo ao invés de sexo, ternurna
7. sinto a sua falta
8. e por fim durmo
sexta-feira, janeiro 19, 2007
Olinda, 7 de janeiro de 2007.
é que foi uma noite longa, de suores e medos, e tive essa manhã de despojar-me das muitas horas de desespero na ducha fria do chuveiro.
agora que sento e te escrevo, e também o faço por medo, vou me sentindo invadida por um leve desapreço, dessasossego, esquecimento. ainda que equilibro a caneta aqui, bem embaixo de nossos narizes, para sucitar vozes de longe.
além disso sei que vivo, o estômago urge, e os cachos secando vão demoradamente se compondo.
sei que as coisas que aqui digo de fato nada falam. é só para reproduzir, no ligeiro estupor que tenciono produzir em suas têmporas quando receber essa carta, um abraço forte e vivo.
quinta-feira, janeiro 18, 2007
dedico
desesperadamente uma vontade de que a vida abra as pernas e proclame como ordem o esfolamento final. é coisa de se pedir dois segundos de folga, respirar bem, olhar pros dois lados, e mergulhar a cabeça como se estivesse pra morrer. arrancando com a boca os pedações do ócio (só porque eu queria falar ócio), comendo cru. se lambuzando em sangue antes casto.
frágil como galinha d'angola
quarta-feira, janeiro 17, 2007
gastrite
sábado, janeiro 13, 2007
dois
quinta-feira, janeiro 04, 2007
cê
o sono não tem sido como era, uma ordem apenas, dormir e então acordar no outro dia.
a noite tem sido cheia de fantasmas e medos e aflições.
a verdade é que eu procuro evitar o passar dos dias.
perde-los pra sempre,
sem nem, ao menos, uma lembrança na retina.
a memória que cessa.
os dias tem sido maus, por mais bons que tentam ser.
desgasto minha pele na areia, no sal, o mar e o sol.
desgasto minha alma deitada na areia.
e por vagos momentos não tenho mais medo,
nem essa incessante vontade de chorar.
até o instante em que tudo se figura errado,
e eu penso em ir pra bem longe,
aonde tenha só o vento, e o mar, e o som das folhas.
então eu lembro que eu estou bem longe,
aonde só tem o vento e o caramba a quatro.
enquanto isso minha alma morre envenenada